A pesquisa colaborativa, apoiada pela Iniciativa Amazônia+10, envolve cientistas do Amazonas, São Paulo e Acre
Foto: Nathalie Brasil/FapeamA demora para administração de antiveneno é o principal fator para o agravamento de acidentes causados por serpentes em seres humanos. Diante disso, a pesquisa colaborativa desenvolvida com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), entre cientistas do Amazonas, Acre e São Paulo, visa contribuir para a eficácia, segurança e efetividade no tratamento de envenenamento provocado pela espécie jararaca-do-norte (Bothrops atrox).
O projeto em andamento intitulado “Avanços no tratamento ofídico: estudos pré-clínicos e clínicos, tratamentos alternativos e descentralização” analisa desde os aspectos básicos da capacidade de neutralização das toxinas das peçonhas da serpente, até o acesso ao antiveneno em áreas remotas da região amazônica.
O estudo reúne pesquisadores da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Instituto Butantan e Universidade Federal do Acre (Ufac) e é amparado pelo projeto Iniciativa Amazônia +10, Chamada de Pública nº 003/2022, ação do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisas (Confap) e do Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência Tecnologia e Inovação (Consecti).
O coordenador do projeto no Amazonas, pesquisador Wuelton Monteiro, da FMT-HVD, explica ser necessária a implementação de um protocolo de pesquisa, que aumente a acessibilidade ao tratamento, diminuindo o tempo decorrido entre o envenenamento e o tratamento do paciente e, consequentemente, melhorando o prognóstico.
“Acredita-se que o treinamento sistemático dos profissionais envolvidos levará ao aprimoramento na classificação de gravidade dos acidentes, melhorando a definição da dose do antiveneno a uma vigilância mais ativa e sensível das reações adversas precoces ao tratamento”, disse o cientista.
Até o momento, os pesquisadores já validaram um material para treinamento de profissionais da saúde, levando em consideração os aspectos epidemiológicos e culturais da região amazônica. Já foram capacitadas, aproximadamente, 300 pessoas que atuam no interior do estado, nos municípios de Careiro da Várzea (a 25 quilômetros da capital), Barcelos (a 399 quilômetros), Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros) e Ipixuna (a 1.367 quilômetros), bem como de sete Distritos Sanitários Indígenas (DSEIs) do Amazonas.
“Desses DSEIs, dois já estão oferecendo o tratamento com soro antiofídico, com excelente aceitação por parte dos profissionais. Nós estamos entrando numa fase de avaliação da viabilidade deste processo, levantando pontos positivos e negativos encontrados durante esta implementação”, observou o pesquisador.
Doutor em Medicina Tropical, Wuelton Monteiro reforça que o envenenamento causado por serpentes exige uma intervenção rápida, com a administração de antiveneno, preferencialmente nas primeiras seis horas após a picada.
Neutralizantes
Identificar moléculas que sejam capazes de neutralizar e bloquear os efeitos do veneno da jararaca-do-norte no organismo humano também têm sido objetivos dos pesquisadores, visto que pode propiciar o desenvolvimento de medicamentos a serem usados no tratamento do envenenamento, em conjunto com o soro antiofídico. Essa parte do estudo vem sendo desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan.
Além de Wuelton Monteiro, participam da pesquisa os cientistas Ana Maria Moura da Silva, do Instituto Butantan, e Paulo Sérgio Bernarde, da Ufac.
Iniciativa Amazônia +10
A Chamada apoia estudos e o desenvolvimento tecnológico em instituições de ensino e pesquisa e em empresas sobre os problemas atuais da Amazônia, que tenham como foco o estreitamento das interações natureza-sociedade, para o desenvolvimento sustentável e inclusivo da região amazônica.
Uma nova chamada pública da Iniciativa Amazônia +10: Expedições Científicas, está aberta. Confira os critérios e requisitos em: https://www.fapeam.am.gov.br/editais/chamada-publica-n-o-0042023-confap-iniciativa-amazonia-10-expedicoes-cientificas/